14 junho 2007

Novela

"Estranhas Coincidências"


Estrelando: Karina Rodriguez

Esse é o nosso capítulo de hoje.

Há até muito pouco tempo atrás, o nome dessa argentina causava discussões apaixonadas. Está certo que os adversários de seu time pudessem até não gostar dela, mas, no fundo, sonhavam que um dia aquela pivô guerreira reforçasse o seu garrafão.

Karina escreveu sua história em muito pouco tempo no Brasil. Os olhos de Maria Helena Cardoso captaram naquela jogadora recém-saída do juvenil um talento e uma capacidade até então inimagináveis. Trazida para o BCN, na época em Piracicaba, o basquete da moça logo cresceu. A fama logo chegou para Karina. Num país que contava com uma geração morna de pivôs, Karina era nitroglicerina pura. Derrubava adversárias, encestava, encestava, e encestava e, de quebra, defendia muito bem.

Todo mundo se espantou com aquela exuberância em quadra e todos perguntamos um dia: "Por que ela não é brasileira?". Quantos dias não sonhamos em ver a seleção, que apenas começava a se destacar internacionalmente, reforçada por aquela jogadora?

E não era apenas uma alucinação, virou fato. Aquele talento argentino gostou da nova casa e queria se tornar uma cidadã brasileira e conseqüentemente uma jogadora da seleção brasileira.

Adoramos e contamos os dias para que a naturalização chegasse.

Enquanto isso, Karina continuou fazendo história nas quadras brasileiras. Jogou com Paula, Hortência, com as duas juntas, com Janeth e colecionou títulos precocemente. Mesmo vendo que a possibilidade de que Karina jogasse pela seleção diminuía progressivamente, todos imaginávamos que Karina continuaria a crescer e que logo demarcaria uma posição de destaque e respeito internacionais.

Tudo parecia muito bom, muito promissor. Hoje é apenas passado. Uma parcela considerável do público começa a se indispor cada vez mais com Karina e ela vem enfrentando um de seus piores momentos.

Karina ocupa nessa novela o papel de vilã e mocinha. Na tentativa de executar o seu projeto-sonho, a pivô percorreu uma trajetória arriscada e delicada nos últimos anos e o momento agora é só de incertezas.

O martírio estava apenas começando em 1998. A carreira da atleta tinha dado uma discreta estagnada em Americana, entre 96-97, e a boa filha voltou a velha casa. Trazida para o BCN, já em Osasco, novamente sobre o comando da fada-madrinha Maria Helena Cardoso, esperávamos ver Karina arrebentar num time que havia sido campeão paulista, com uma equipe renovadíssima. Mera ilusão. Karina se contundiu na primeira partida do I Nacional e passou o torneio de molho. A sua recuperação foi acompanhada da contratação de Magic Paula. Karina ganhou o campeonato paulista de 1998 pelo BCN e foi dispensada, exigência do ranqueamento para que Paula pudesse jogar.

Desempregada, arrumou as malas e foi para Recife, defender o Sport no II Nacional (99), um time que simplesmente não aconteceu. Em meio à campanha anêmica do time, surgiram boatos de problemas no relacionamento da atleta com o técnico do time - o cubano Eduardo Cabrera.

De volta à São Paulo, Karina lutou para emplacar seu projeto de montar uma equipe, com estrutura e incentivo ao trabalho de base. A pivô lutou, lutou, lutou e um dia antes do prazo final para inscrição, não conseguia patrocinadores. Quando o gongo ia estourar, Karina decidiu traçar um macarrão e viu estampado em um dos ingredientes a sua salvação: Caldos Knorr. Karina conseguiu seu sapatinho de cristal e o sonho durou até um pouquinho depois da meia-noite.

Karina montou o time, chamou o técnico Zé Boquinha, com mais experiência em times masculinos e contratou todo mundo que estava dando sopa no mercado, estrangeiras e até pagou a cirurgia de Leila Sobral. O time não decolou, é óbvio. Montado às pressas, deu sinais que poderia engrenar nas semifinais do Paulista, contra o campeão Paraná.

Mas aí, acabou a primeira parte do sonho (ou pesadelo?). A Knorr retirou o patrocínio enquanto Karina anunciava uma possível contratação de Paula para o III Nacional (2000).

Karina conseguiu alongar os capítulos da sua novela.

Arranjou um patrocínio da Quaker. Mas a estrutura recém-formada foi revista. Karina dispensou o técnico Zé Boquinha, algumas atletas, contratou Antônio Carlos Barbosa, contratou mais atletas, até a estrela Razija a 10.000 km de sua melhor forma.

Uma americana saiu no meio do campeonato, Jacqueline Godoy chegou para a outra metade e ...

O time fez uma campanha medíocre no Nacional 2000.

A nossa pivô, mesmo sendo a maior cestinha do campeonato, não conseguiu uma vaga na WNBA.

Ano Novo, Vida Nova! O time mudou de casa em 2001. Karina levou seu sonho para passear em Jundiaí.

Novamente dispensou algumas atletas e contratou outras mais.

Estranhamente atletas que não conseguiam render absolutamente nada na equipe, hoje abalam as estruturas em outros clubes, como a ala Aide.

O time parecia que ia engrenar, principalmente pelo cenário modesto da temporada paulista. Mas nossa heroína viu o príncipe virar sapo mais uma vez. O time nadou 5 metros e nem na praia morreu; morreu afogado mesmo, com a retirada do patrocínio da Quaker.

Desesperada, Karina lutou mais ainda, mas ninguém queria patrocinar o seu sonho.

Quando parecia que ia tudo para o ar, eis que surge um amigo recém-saído de uma outra novela, Wanderley Luxemburgo, e gentilmente pai-trocina o projeto de Karina.

Tentando ser Fênix, Karina contratou mais atletas: a armadora argentina, com uma passagem de destaque por Itatiba, Laura Nicolini e a talentosa Sandra Prande, de Araçatuba.

Poucas partidas depois, o técnico Antônio Carlos Barbosa pulou fora do barco, alegando cansaço e problemas particulares e Karina trouxe outro técnico do masculino (Marcel), pra ver se ele fazia do time um porto dos milagres.

Estranho, né? O cansaço e os problemas particulares de Barbosa só surgiram depois de algumas partidas? Por que não abandonou o barco antes de o torneio começar, dando tempo para que um novo técnico assumisse o trabalho?

E eu fiquei caladinho, nem achei que ia contar essa história porque muitos poderiam não dormir à noite; e isso já parecia Linha Direta.

Mas aconteceram outros dados que eu não preciso ser repórter da Globo para sentir que as coisas não estão legais.

Sandra e Laura vinham sendo titulares do time e estavam até se destacando em algumas estatísticas do Campeonato.

Pois as últimas notícias são de que as duas deixaram o clube por "problemas particulares".

Ah, é?

Então eu sou o Manoel Carlos, autor dos "Laços de Família" e estou aqui fazendo um bico pra ganhar uns trocados nas minhas férias!!!!!!

Vai ter problema particular nesse time assim lá em Pindamonhagaba!

E na minha ficção, eu chego até a pensar que seja porque o Wanderley Luxemburgo, como mostrou na CPI, é tão esquecido, que possa estar se esquecendo de passar o dinheiro para Karina!

E quando eu já não estava aguentando mais esse papo, fui pesquisar pra ver o que os jornais diziam; achando que as minhocas estavam todas na minha cabeça.

Aí, eu dei de cara com essa manchete do Jornal de Jundiaí:

Irritado, Marcel abandona o treino

Segundo o jornal, Marcel ficou chateado com uma suposta brincadeira de Karina, perdeu a compostura e bateu boca com nossa pivô-empresária.

E eu nem faço idéia de quais serão os próximos capítulos: Será que o Marcel vai ter "problemas particulares" também?

Além desses vai-e-voltas como empresária, Karina perdeu o centro também como atleta.

Está há algum tempo longe de sua forma física, o que é até compreensível para quem acumula 'n' funções como Karina faz. Mas isso é justo com a sua carreira, Karina?

Dentro de quadra, Karina passou a centralizar o jogo como nunca. A bola tem que passar pela sua mão em todas as jogadas, seja por exigência sua ou por opção de suas colegas de trabalho.

O time está afundando mais uma vez e para classificar neste Nacional, só com a ajuda de um anjo caído do céu. E não adianta tentar contratar o Caio Blat, porque ele está muito ocupado com o Tarcísio Meira.

Para terminar, sei que Cristal é de outra novela, mas um pouquinho mais de transparência não faria mal para ninguém, nem para o Guilherme Fontes, nem para Wanderley Luxemburgo, nem para Karina e tão pouco para o nosso basquete.

Aguardem os próximos capítulos!

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